Suas virtudes e histórias criaram raízes por onde ele passou. Lendárias ou não, São Jorge, o cavaleiro que matou o dragão, está em voga há séculos. Não é à toa que continua sendo lembrado e festejado todo dia 23 de abril.
Texto • Patricia Bernal
Quando me pedem para pintar São Jorge, vejo que as pessoas buscam proteção e força para que consigam realizar seus projetos de vida”, fala a artista plástica carioca Sonia Madruga, autora do quadro do santo que ilustra esta reportagem. Tal figura, carregada de lendas e mitos, representa o perfil destemido e corajoso do guerreiro que ocupa um importante espaço tanto na igreja católica quanto nos terreiros de candomblé. “Cada orixá faz correspondência com algum santo católico. Nossa Senhora da Conceição é Iemanjá, assim como São Jorge é Ogum e Oxóssi. Essa associação se estabelece a partir das características semelhantes entre eles”, esclarece o professor de sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Reginaldo Prandi, autor do livro Mitologia dos Orixás (ed. Companhia das Letras).
Independentemente de religião ou crença, não há quem duvide de sua força e coragem. O que muita gente desconhece é que, antes de ser reconhecido como santo pela igreja católica, e como guerreiro do ferro e das matas pelo candomblé, Jorge percorreu terras longínquas e lutou ardorosamente em defesa de sua fé.
O início de sua popularidade aconteceu no auge da perseguição aos cristãos pelo imperador romano Deocleciano – final do século 3, quando, dotado de extrema ousadia, o guerreiro passou a defender fervorosamente o cristianismo. “Na época, era proibido qualquer tipo de oposição aos deuses cultuados pelo regime político vigente”, escreve a museóloga Maria Augusta Machado, no livro São Jorge: Arquétipo, Santo e Orixá (ed. Ibis Libris). Porém, crente de apenas um Deus, o príncipe de Capadócia – como era chamado - desafiou o imperador e se tornou um símbolo da resistência católica. “Sua prova de fé foi dar a própria vida em nome de Jesus Cristo”, explica o teólogo formado pelo Pontificium Athenaeum Anselmianum, de Roma, Antonio Carlos Oliveira Souza. “É por isso que a Igreja o reconhece como alguém que lutou pela fé cristã e o considera
um mártir católico”, completa.
SUCESSOEM TERRAS BRASILEIRAS
Para desbravar mares e séculos de história, o santo pegou carona com nossos colonizadores. “Naquela ocasião, os portugueses já o haviam nomeado como seu padroeiro”, esclarece o teólogo. “Além de torná-lo conhecido em nossas terras, tal fato o incorporou à cultura religiosa local.”
Mas nem sempre Jorge foi santo. “É importante ressaltar que, no Brasil, quem realmente o popularizou foram os negros africanos”, completa. “Na época do Império, os europeus consideravam sua religião superior e proibiam qualquer tipo de manifestação de fé contrária à sua. Para não perderem suas raízes religiosas, os africanos usavam imagens católicas em seus cultos, associando-as a algum orixá para não serem perseguidos.” Esses fatores culturais e religiosos fizeram com que São Jorge encontrasse espaço definitivo também no candomblé.
Independentemente de religião ou crença, não há quem duvide da coragem de São Jorge. A ele, as pessoas pedem proteção, fartura e força.
O OUTRO LADO DA FORÇA
Nas regiões próximas ao Rio de Janeiro e ao Rio Grande do Sul, o cavaleiro da fé cristã é identificado como Ogum, o guerreiro, o deus do ferro e da agricultura. “Aqueles que desejam resolver os conflitos da vida, abrir os caminhos e tirar os empecilhos à sua frente recorrem a Ogum”, afirma o pesquisador Reginaldo Prandi. “Diferentemente de Ogum, os que invocam Oxóssi, caçador da mata, pedem alimento e fartura para seu lar.”
Um pouco mais ao norte, na Bahia e em todo seu redor, São Jorge é identificado como Oxóssi, patrono da caça e da ecologia. “A mitologia sempre trabalha com uma representação simbólica que, quando repetida várias vezes, acaba sendo aceita como a verdade”, diz Prandi. Isso explica por que Oxóssi se aproxima de São Jorge: ambos são símbolos de histórias similares e rodeadas de lendas. Uma delas conta que, para proteger os homens das ameaças de um pássaro, Oxóssi matou o animal. “Essa história se correlaciona com o dragão que São Jorge vence em uma de suas lendárias batalhas como guerreiro”, conta o escritor.
Nas regiões próximas ao Rio de Janeiro e ao Rio Grande do Sul, São Jorge é conhecido como Ogum. E na Bahia e arredores, como Oxóssi
Seja no candomblé ou no catolicismo, o fato é que o mito de São Jorge sobrevive até os dias de hoje. Sua imagem está presente ora nas descoladas vitrines de moda da vila Madalena,em São Paulo , ora dando um toque exótico às decorações de arquitetos renomados, ou até mesmo sendo recriado em pinturas e esculturas, forte como nunca. Como se não bastasse, o santo guerreiro conquistou um espaço definitivo na música popular brasileira, entoado por Jorge Ben Jor e Caetano Veloso na música Jorge da Capadócia: “Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge. Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam. E nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal”, e Salve, Jorge!
Reportagem retirada do site da Revista Bons Fluídos
Texto • Patricia Bernal
Quando me pedem para pintar São Jorge, vejo que as pessoas buscam proteção e força para que consigam realizar seus projetos de vida”, fala a artista plástica carioca Sonia Madruga, autora do quadro do santo que ilustra esta reportagem. Tal figura, carregada de lendas e mitos, representa o perfil destemido e corajoso do guerreiro que ocupa um importante espaço tanto na igreja católica quanto nos terreiros de candomblé. “Cada orixá faz correspondência com algum santo católico. Nossa Senhora da Conceição é Iemanjá, assim como São Jorge é Ogum e Oxóssi. Essa associação se estabelece a partir das características semelhantes entre eles”, esclarece o professor de sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Reginaldo Prandi, autor do livro Mitologia dos Orixás (ed. Companhia das Letras).
Independentemente de religião ou crença, não há quem duvide de sua força e coragem. O que muita gente desconhece é que, antes de ser reconhecido como santo pela igreja católica, e como guerreiro do ferro e das matas pelo candomblé, Jorge percorreu terras longínquas e lutou ardorosamente em defesa de sua fé.
O início de sua popularidade aconteceu no auge da perseguição aos cristãos pelo imperador romano Deocleciano – final do século 3, quando, dotado de extrema ousadia, o guerreiro passou a defender fervorosamente o cristianismo. “Na época, era proibido qualquer tipo de oposição aos deuses cultuados pelo regime político vigente”, escreve a museóloga Maria Augusta Machado, no livro São Jorge: Arquétipo, Santo e Orixá (ed. Ibis Libris). Porém, crente de apenas um Deus, o príncipe de Capadócia – como era chamado - desafiou o imperador e se tornou um símbolo da resistência católica. “Sua prova de fé foi dar a própria vida em nome de Jesus Cristo”, explica o teólogo formado pelo Pontificium Athenaeum Anselmianum, de Roma, Antonio Carlos Oliveira Souza. “É por isso que a Igreja o reconhece como alguém que lutou pela fé cristã e o considera
um mártir católico”, completa.
SUCESSO
Para
Mas nem sempre Jorge foi santo. “É importante ressaltar que, no Brasil, quem realmente o popularizou foram os negros africanos”, completa. “Na época do Império, os europeus consideravam sua religião superior e proibiam qualquer tipo de manifestação de fé contrária à sua. Para não perderem suas raízes religiosas, os africanos usavam imagens católicas em seus cultos, associando-as a algum orixá para não serem perseguidos.” Esses fatores culturais e religiosos fizeram com que São Jorge encontrasse espaço definitivo também no candomblé.
Independentemente de religião ou crença, não há quem duvide da coragem de São Jorge. A ele, as pessoas pedem proteção, fartura e força.
O OUTRO LADO DA FORÇA
Nas regiões próximas ao Rio de Janeiro e ao Rio Grande do Sul, o cavaleiro da fé cristã é identificado como Ogum, o guerreiro, o deus do ferro e da agricultura. “Aqueles que desejam resolver os conflitos da vida, abrir os caminhos e tirar os empecilhos à sua frente recorrem a Ogum”, afirma o pesquisador Reginaldo Prandi. “Diferentemente de Ogum, os que invocam Oxóssi, caçador da mata, pedem alimento e fartura para seu lar.”
Um pouco mais ao norte, na Bahia e em todo seu redor, São Jorge é identificado como Oxóssi, patrono da caça e da ecologia. “A mitologia sempre trabalha com uma representação simbólica que, quando repetida várias vezes, acaba sendo aceita como a verdade”, diz Prandi. Isso explica por que Oxóssi se aproxima de São Jorge: ambos são símbolos de histórias similares e rodeadas de lendas. Uma delas conta que, para proteger os homens das ameaças de um pássaro, Oxóssi matou o animal. “Essa história se correlaciona com o dragão que São Jorge vence em uma de suas lendárias batalhas como guerreiro”, conta o escritor.
Nas regiões próximas ao Rio de Janeiro e ao Rio Grande do Sul, São Jorge é conhecido como Ogum. E na Bahia e arredores, como Oxóssi
Seja no candomblé ou no catolicismo, o fato é que o mito de São Jorge sobrevive até os dias de hoje. Sua imagem está presente ora nas descoladas vitrines de moda da vila Madalena,
Reportagem retirada do site da Revista Bons Fluídos
Salve São Jorge! Que nos abençoe!
ResponderExcluirSonia Madruga
Um prazer encontrar esta aquarela que pintei com todo amor aqui hoje, um ano depois!
Rio, 22 de Abril de 2012.
http://www.soniamadruga.com