22 de outubro de 2011

RESPEITO É NORMA PARA SUPERAR DIFERENÇAS RELIGIOSAS


Respeito. Essa é a palavra-chave para a boa convivência entre membros de uma mesma família que seguem crenças diferentes.


Mesmo em um País famoso pelo sincretismo, como o Brasil, religião continua sendo um assunto delicado dentro e fora de casa.


No círculo familiar, não respeitar a escolha do outro pode ser o estopim para sérias discussões e desentendimentos entre marido e mulher, pais e filhos e entre irmãos.

Nessa “briga” para saber quem está certo, os debates são sempre emocionais.


É o mesmo que discutir futebol. Os fanáticos querem sempre convencer que o time dele é melhor que o do outro. É uma discussão que não tem fim e o resultado nunca é satisfatório.


Quando as desavenças religiosas ocorrem dentro da família, o risco de ruptura dos laços afetivos é grande.

Qualquer palavra mal colocada ou uma afirmação mais radical podem provocar estragos irreversíveis. Por isso, o respeito à crença alheia é visto como o antídoto perfeito para combater a intolerância religiosa.

É o respeito que mantém unido o casal Leandro da Silva Brito, 33 anos, e Karienne Fernanda Dias da Silva, 31 anos. Ele umbandista e, ela, evangélica. Ambos convivem debaixo do mesmo teto há quatro anos. Apesar da diferença quase inconciliável entre as duas crenças, a religião nunca foi motivo de desentendimento entre eles.

“Para os evangélicos nós somos a personificação do capeta. O preconceito é muito grande. Mesmo assim, minha esposa sempre respeitou minha escolha. Ela tem uma mente mais aberta”, afirma Leandro.

Segundo ele, essa “mente mais aberta” se deve ao fato da esposa ter acompanhado de perto o bem que a umbanda fez na vida do marido. Depois de passar por sérios problemas pessoais, Leandro entrou em depressão. Segundo ele, depois de tentar de tudo para se reerguer foi na umbanda que ele encontrou novo sentido para a vida.

“Minha esposa viu a transformação que aconteceu na minha vida. Ela viu o bem que a umbanda me fez. Por isso, nunca me criticou por freqüentar terreiro”, relata. Leandro diz que já foi várias vezes com Karienne à igreja, mas ela nunca aceitou um convite dele para ir a um terreiro. Nem por isso, deixa de respeitar a decisão dela.

Com relação aos filhos - eles têm três -, a escolha da crença que vão seguir ficará a critério deles, segundo adiantou Leandro.


“Eles têm liberdade de escolha. Não vamos impor nada”, afirma.

É o respeito que também mantém a família do mórmon Roberto Vergílio Soares, 39 anos, unida. Ao todo, eles são cinco irmãos. Todos nasceram em berço católico, mas decidiram seguir outros rumos quando cresceram.


No catolicismo só restou mesmo a mãe. Um dos filhos é espírita. Dois escolheram igrejas evangélicas. E outros dois foram para a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e tornaram-se mórmons.

Apesar de toda essa diversidade religiosa, Roberto garante que a família tem uma convivência muito pacífica. O segredo? Ele dá a dica.


“Cada um respeita o outro. Mesmo não concordando com alguma doutrina, nós procuramos ouvir todos e não entrar em polêmica”, ensina.

Segundo ele, normalmente, as discussões nunca chegam a lugar nenhum, mas quando elas ocorrem, a mãe é quem sempre dá a sentença final com o argumento de que “Deus é um só”. Roberto conta que a família toma o cuidado de fazer um rodízio de orações para agradar a todos, ou seja, a cada momento especial um é escolhido para orar por todos.


Uma das saídas, segundo ele, é a oração do “Pai Nosso”, que é universal.

Na opinião de Roberto, que é primeiro conselheiro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias de Bauru, se não houver respeito pela escolha alheia, a família vira uma Palestina - território que está em guerra constante por motivos religiosos.

Sem divergências


A casa de Fábio Franco Novaes, 31 anos, é outro exemplo de onde o diálogo e o respeito à fé alheia funcionam bem. Filho de pais que freqüentam a Igreja Messiânica, Fábio tornou-se evangélico enquanto o irmão preferiu seguir o catolicismo.

Ele lembra que no início houve uma certa confusão dentro da família com essa mistura, principalmente quando os pais souberam que um dos filhos havia se tornado evangélico. “Eles ficaram preocupados por tudo que ouviam sobre os evangélicos”, diz.

Mas depois de algum tempo de convivência com um evangélico, Fábio conta que os pais ficaram mais tranqüilos com a opção dele. “Hoje, eles mudaram o conceito que tinham dos evangélicos porque eles passaram a conviver com um dentro de casa e viram que não era nada daquilo que falam por aí. Ainda há muito preconceito na sociedade contra os evangélicos”, comenta.

Fábio diz que atualmente não há divergências religiosas quando a família está reunida porque todos acreditam no mesmo Deus. “A única diferença é que eles (pais e irmão) acreditam também em outro Messias (no caso dos messiânicos) e em santos (no caso dos católicos) enquanto o meu compromisso é só com Deus”, compara.

Neusa Maria Portalupi Monteiro de Souza, 48 anos, conta que quando os pais ficaram sabendo que ela estava freqüentando terreiro de umbanda, eles ficaram revoltados. “Eles chamaram um padre para conversar comigo e me convencer a largar tudo aquilo. Para os meus pais, a umbanda era feitiçaria”, recorda.

Neusa lembra que o pai nunca havia entrado em seu quarto, por respeitar a privacidade das mulheres. Mas no dia em que ela montou um altar e acendeu velas coloridas, o pai entrou no quarto para derrubar tudo. Isso ocorreu umas duas ou três vez. Depois, o pai parou, mas nunca aceitou a vida religiosa da filha. Ao contrário da mãe, que com o tempo ficou mais flexível.

Ela conta que quando dois de seus cinco irmãos tornaram-se evangélicos, por mais paradoxal que possa parecer, a convivência ficou mais fácil. “Nós aprendemos a respeitar um ao outro”, afirma. Além dos dois irmãos evangélicos, Neusa tem mais dois católicos e um umbandista como ela.

Embora os irmãos não concordem com a opção dela, Neusa diz que todos a respeitam. Tanto é assim que as festas de Natal são sempre feitas na casa dela. “Eu defumo a casa, acendo velas coloridas, mesmo assim vai todo mundo. Eles não concordam, mas respeitam.”

Por Adilson Camargo - 03/08/2008

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