O mistério não é recente. Há mais de dois mil anos, a glândula pineal,ou epífise, é tida como a sede da alma. Para ospraticantes do ioga, a pineal é o ajna chakra, ou o "terceiroolho", que leva ao autoconhecimento. O filósofo e matemático francêsRenê Descartes, em Cartaa Mersenne, de 1640, afirma que "existiria no cérebro uma glândula queseria o local onde a alma sefixaria mais intensamente".
Atualmente, as pesquisas científicas parecem ter se voltado definitivamentepara o estudo mais atento desta glândula. Estaria ahumanidade próxima da comprovação científica da integração entre ocorpo e a alma? Haveria um órgão responsável pela interação entre ohomem e o mundo espiritual? Seria a mediunidade, de fato, umatributo biológico e não um conceito religioso,como postulou Allan Kardec?
Para responder a estas e outras perguntas, a revista Espiritismo &Ciência conversou com o psiquiatra e mestre em Ciências pelaUniversidade de São Paulo, dr. Sérgio Felipe de Oliveira.Diretor-clínico do InstitutoPineal Mind, e diretorpresidente da AMESP (Associação Médico-Espíritade São Paulo), Sérgio Felipe de Oliveira é um dos maiorespesquisadores na área de Psicobiofísica da USP, e vem ganhandodestaque nos meios de comunicação com suas pesquisas acerca do papelda glândula pineal em fenômenos ligados à mediunidade.
Fale um pouco sobre seu trabalho à frente da AMESP edo Instituto Pineal Mind.
A AMESP é uma associação de utilidade pública que reúne médicos dedicados aoestudo da relação entre a medicina e a espiritualidade. OPineal Mind é minha clínica, um institutode saúde mental, onde fazemos pesquisas eatendemos psicoses, síndromes cerebro-vasculares, ansiedades,depressão, psicoses infantis, uso de drogas e álcool. Temos um setorde psiconcologia (psicologia aplicada ao câncer) e estudamos também osaspectos psicossomáticos ligados à cardiologia, etc. Agora,particularmentenas pesquisas comportamentais, eu estudo os estados de transe e a mediunidade.Mas não pesquiso só a glândula pineal; ela é o que eu pesquiso nocérebro, interessado em entender a relação entre corpo e espírito.
O que é psicobiofísica?
É a ciência que integra a psicologia, a física e a biologia. Nabiologia, estudamos o lobo frontal, responsável pela crítica da razão;mas o cérebro funciona eletricamente - aí entra a física, que serve desubstrato para o pensamento crítico, que é o psicológico.
Quando surgiu seu interesse no aprofundamento do estudo da pineal?
Foi por volta de 1979/80, quando eu estava estudando a obra de André Luiz, psicografada por Chico Xavier. Em Missionários da Luz, a pineal é claramente citada. Nesta mesma época, eu já pleiteava o curso deMedicina. No colégio, estudando Filosofia, fiquei impressionado com aobra de Descartes,que dizia que a alma se ligava ao corpo pela pineal.Quando entrei na faculdade,corri atrás destas questões, do espiritual,da alma e de como isso se integra ao corpo.
O que é a glândula píneal, onde está localizada e qual a sua função noorganismo?
A pineal está localizada no meio do cérebro, na altura dos olhos. Elaé um órgão cronobiológico, um relógio interno. Como ela faz isso?Captando as radiações do Sol e da Lua. A pineal obedece aos chamadosZeitbergers, oselementos externos que regem as noções de tempo. Porexemplo, o Sol é um Zeitberger que influencia a pineal,regendo 0 ciclo de sono e de vigília, quando esta glândula secreta ohormônio melatonina. Isso dá ao organismo a referência de horário.Existe também o Zeitberger interno, que são os genes, trazendoo perfil de ritmo regular de cada pessoa. Agora, o tempo é uma regiãodo espaço. A dimensão espaço-tempo é a quarta dimensão. Então, aglândula que te dá a noção de tempo está em contato com aquarta dimensão. Faz sentido perguntarmos: "Será que a partir daquarta dimensão já existe vida espiritual?" Nós vivemos em trêsdimensões e nos relacionamos com a quarta, através do tempo. A pinealé a única estrutura docorpo que transpõe essa dimensão, que é capaz de captar informaçõesque estão além dessa dimensão nossa. A afirmação de Descartes, doponto em que a alma se liga ao corpo, tem uma lógica até na questãofísica, que é esta glândula que lida com aoutra dimensão, e isso é um fato.
Outros animais possuem a epífise? Ela está relacionada á consciência?
Todos os animais têm essa glândula; ela os orienta nos processos migratórios, por exemplo, pois ela sintoniza ocampo magnético. Nos animais, a glândula pineal tem fotorreceptoresiguais aos presentes na retina dosolhos, porque a origem biológica da pineal é a mesma dos olhos, é umterceiro olho, literalmente.
Esta glândula seria resquício de algum órgão que está se atrofiando,ou estaria ligada a uma capacidade psíquica a ser desenvolvida?
Eu acredito que a pineal evoluiu de um órgão fotorreceptor para umórgão neuroendócrino. A pineal não explica integralmente o fenômenomediúnico, como simplesmente os olhos não explicam a visão. Você podeter os olhos perfeitos, mas não ter a área cerebral que interpreteaquela imagem. É como um computador: você pode ter todos osprogramas em ordem, mas se a tela não funciona, você não vê nada. A pineal, noque diz respeito à mediunidade, capta o campo eletromagnético,impregnado de informações, como se fosse umtelefone celular. Mas tudo isso tem que ser interpretado em áreascerebrais, como por exemplo, o córtex frontal. Umpapagaio tem a pineal, mas não vai receber um espírito, porque ele nãotem uma área no cérebro que lhe permita fazer um julgamento. Amediunidade está ligada a uma questão de senso-percepção.
Então, a ela não basta a existência da glândula pineal, mas sim, todo o cone que vai até o córtex frontal, que é onde você faz a crítica daquilo queabsorve. A mediunidade é uma função de senso(captar)-percepção (faz a crítica do que está acontecendo). Então, amediunidade é uma função humana.
A pineal converte ondas eletromagnéticas em estímulos neuroquímicos?Isso é comprovado cientificamente?
Sim, isso é comprovado. Quem provou isso foram oscientistas Vollrath e Semm, que têm artigos publicadosna revista científica Nature, de 1988.
A parapsicologia diz que estes campos eletromagnéticos podem afetar amente humana. O dr. Michael Persinger, daLaurentian University, no Canadá, fez experiências com um capacete queemite ondas eletromagnéticas nos lobos temporais. As pessoassubmetidas a essas experiências teriam tido "visões" e sentirampresenças espirituais. O dr. Persinger atribuiesses fenômenos à influência dessas ondas eletromagnéticas O que o senhor teria a dizer sob isso?
Veja, o espiritual age pelo campo eletromagnético. Então, dizer queeste campo interfere no cérebro não contraria a hipótese de umainfluência espiritual. Porque, se há uma interferência espiritual,esta se dá justamente pelocampo eletromagnético. Quando se fala do espiritual, em Deus,a interferência acontece na natureza pelas leis da própria natureza.Se o campo magnético interfere no cérebro, a espiritualidade interfereno cérebro PELO campomagnético. Uma coisa não anula a outra. Pelo contrário, complementam-se.
A mediunidade seria atributo biológico e não um conceito religioso?
Existe uma controvérsia no meio cientifico a esse respeito? A mediunidade é um atributo biológico, acredito, que acontece pelofuncionamento da pineal, que capta ocampo eletromagnético, através do qual aespiritualidade interfere. Não só no espiritismo, masem qualquer expressão de religiosidade, ativa se a mediunidade,que é uma ligação com o mundo espiritual.
Um hindu, um católico, um judeu ou um protestante que estiverfazendo uma prece, está ativando sua capacidade de sintonizar comum plano espiritual. Isso é o que se chama mediunidade, que éintermediar. Então, isso não é uma bandeira religiosa, mas uma funçãonatural, existenteem todas as religiões. E isso deve acontecer através do campomagnético, sem dúvida. Se aespiritualidade interfere, é pelo campo eletromagnético, que depois éconvertido, pela pineal, em estímulos eletroneuroquímicos. Não existecontrovérsia entre ciência e espiritualidade, porque a ciência nãonega a vida após a morte. Não nega a mediunidade. Não nega aexistência do espírito. Também não há uma prova final deque tudo isto existe. Não existe oposição entre o espirituale o científico. Você pode abordar oespiritual com metodologia científica, e o espiritismosempre vai optar pela ciência. Essa é uma condição precípua dopensamento espírita. Os cientistas materialistas que disserem "esta éminha opinião pessoal", estarão sendo coerentes. Mas se disserem que aopção materialista é a opinião da ciência, estarão subvertendo aquiloque é a ciência. A American Medicai Association, doMinistério da Saúde dos EUA, possui vários trabalhos publicados sobremediunidade e a glândula pineal. O Hospital das Clínicas sempre tevetradição de pesquisas na área da espiritualidade e espiritismo. Issonão é muito divulgado pela imprensa, mas existeum grupo de psiquiatras lá defendendo teses sobre isso.
Como são feitas as experiências em laboratório?
Existem dois tipos: um, que é a experiência de pesquisa dasestruturas do cérebro, responsáveis pela integração espírito/corpo; eoutra, que é a pesquisa clínica, das pessoas em transe mediúnico. Sãotestes de hormônios, eletroencefalogramas, tomografias, ressonânciamagnética, mapeamento cerebral, entre outros. Acoleta de hormônios, por exemplo, pode ser feita enquanto opaciente está em estado de transe. E os resultadosapresentam alterações significativas.
As alterações em exames de tomografia, por exemplo, são exclusivas oucondizentes com outras patologias? O senhor descarta ahipótese de uma crise convulsiva?
Isso é bem claro: a suspeita de uma interferência espiritual surgequando a alteração nos exames não justifica a dimensão ou a proporçãodos sintomas. Porexemplo: o indivíduo tem uma crise convulsiva fortíssima, é feito oeletroencefalograma e aparece umalesão pequena. Não há, então, uma coerência entre o que estáacontecendo e o que o exame está mostrando. A reação não éproporcional à causa. A mediunidade mexe com o sistema nervosoautônomo - descarga de adrenalina, aceleração do ritmo cardíaco,aumento da pressão arterial.
Como o senhor diferencia doença mental demediunidade?
Na doença mental, o paciente não tem crítica da razão; no transemediúnico, ele tem essa crítica. Quando o médium diz que incorporoutal entidade espiritual, mas que ele, médium, continua sendodeterminada pessoa, ele usou a crítica, julgou racionalmente o queaconteceu. Agora, um indivíduo que diz ser Napoleão Bonaparte? Aí eleperdeu a crítica da razão. Essa é a diferença. O que não quer dizerque o indivíduo que esteja em psicose não possa estaremtranse também. A mediunidade se instala no indivíduo são, ou pode daruma dimensão muito maior a uma doença. A mediunidadesempre vai dar um efeito superlativo. Se a pessoa alimenta bons sentimentos,ela cresce. Se ela tem uma doença, aquela doença pode ficar fora de controle.
É verdade que a pineal se calcifica com ameia-idade? E essa calcificação prejudica amediunidade?
Não, a pineal não se calcifica; ela forma cristais deapatita, e isso independe da idade. Estes cristais têm a ver com operfil da função da glândula. Uma criança pode ter estes cristais napineal emgrande quantidade enquanto um adulto pode não ter nada.Percebemos, pelas pesquisas, que quando um adulto tem muito destes cristais napineal, ele tem mais facilidade de seqüestrar o campoeletromagnético. Quando a pessoa tem muito dessescristais e sequestra esse campo magnético, esse campochega num cristal e ele é repelido e rebatido pelos outros cristais,e este indivíduo então apresenta maisfacilidade no fenômeno da incorporação. Ele incorpora o campo com asinformações do universomental de outrem. É possível visualizar estescristais na tomografia. Observamos que quando o paciente tem muita facilidadede desdobramento, ele não apresenta estes cristais.
As crianças teriam mais sensibilidade mediúnica?
A mediunidade na criança é diferente da de umadulto. É uma mediunidade anímica, é de saída. Ela sai do corpoe entra em contato com o mundo espiritual.
A pineal pode ser estimulada com a entoação de mantras, como pregam os místicos?
A glândula está localizada em uma área cheia de líquido. Talvez o somdesses mantras faça vibrar o líquido, provocando alguma reação naglândula. Os cristais também recebem influências de vibração. Devevibrar o líquor, a glândula, alterando o metabolismo. Teria lógica.
Em que se concentrarão seus próximos estudos?
Estou preparando um estudo sobre Cronogenética da Reencarnação. Mas,sobre isso, falarei mais detalhadamente em 2003, durante o Congresso Médico-Espírita.
Revista Espiritismo & Ciência / Número 3 / Páginas 22-27
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